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(domingo à noite)
"- Tens feito...antivírus...computador?" - pergunta-me F, entrando na minha salinha .
" - Não...não tenho feito nada...estou a jogar...podes fazer...isso? Por favor..." - respondo, sem tirar os olhos do écran.
" - Tens ai um dvd? Para não ir lá dentro..."
" - Tenho" - estendendo-lhe a caixa com a mão disponível - "estou a jogar...a caneta de acetato está ai em cima..." - indico-lhe, apontando com o queixo.
F. instala-se, liga, resmunga qualquer coisa do tipo "isto assim não pode ser...já expirou...", mexe nos cabos, matraqueia o teclado, durante um tempo infinito [pelo menos, é o que me parece]e, por fim, diz-me:
" - Guarda este dvd...já tens...e também instalei..."
" - 'Tá bem...obrigada...já guardo...estou a jogar..."
(ontem à noite)
" - Então, o computador, está melhor?" - interessa-se.
" - Está óptimo! Tem aqui estas coisas novas!" - e indico com o rato - "e estes ícones, que não tinha..."
" - Pois está! Instalei o...e agora...já tens..." - inicia a explicação.
" - ...Estou a jogar ..."- interrompi-o, justificando-me.
F. sai da salinha, em silêncio, e horas mais tarde, diz-me, do corredor:
" - Ainda estás acordada?!"
" - Estou aqui distraída...a jogar...", atiro-lhe, baixinho.
" - Isso já não é distracção, já é um vício!" - retorquiu, em tom de censura.
Estas palavras despertaram um clic no meu cérebro. Mecanicamente, desligo o pc. Vou à cozinha, onde F. aquece água para o saco de água quente para a caminha da Maria. Abro o frigorífico, tiro um yogurte líquido - [já] sinto fome -, dou um gole e atiro-lhe:
" - Achas mesmo?"
" - Já viste as horas?!" - devolve-me, triplicando de tamanho [está de costas para mim e vejo aqueles ombros do tamanho do Adamastor - está "aborrecido"].
Embalagem no lixo, vou para dentro, preparo-me para deitar. Verifico tudo, olho para o relógio da cozinha: "Ai, bolas! Amanhã vou estar com uma cara que mete medo...". Deito-me. Tenho os pés gelados [há quantas horas estou parada?!], aproximando-os dos dele. Aconchego a Pipoquinha do meu lado, murmurando-lhe ao ouvido: "Não incomodes o dono, que está a dormir, deita-te". Ela obedece. Passado instantes, o quase-toque do narizinho do Amarelinho na minha cara: "Deita-te, não aborreças o dono". Este também já está aninhado. Respiro fundo, aconchego-me a F., sinto a Mariazinha procurar espaço, encostada às minhas pernas. A miudagem está toda sossegada [incluíndo eu!] e, finalmente, F. abraça-me pela cintura.
Já não está "aborrecido".
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