domingo, 27 de dezembro de 2009

Dia III – 11/11/09






(conclusión)

Inicio a última jornada após uma noite mal-passada. Despertador: 6:15 h, há-que fazer check-out do hotel. A manhã desponta enevoada, como eu. Engulo 1 ibuprofeno, saio para a rua fria, ao encontro de mais um dia intenso. A rua em obras (Barcelona é uma cidade com obras eternas…), muito trânsito, atravesso a rua, aguardo um táxi. Aos meus pés, desequilibra-se uma senhora mayor, atiro com tudo para o chão, deito-lhe as mãos às mangas do casaco. A senhora é pesada e nem eu consigo evitar que os joelhos lhe falhem, seguro-a o melhor que posso [tento evitar o pior, ie, que bata com a cara no cimento], ela trepa por mim acima, balbuciando: “Ai, chica”. Amparo-a ao meu corpo, pergunto-me se está bem, se teve alguma tontura…responde-me com acenos e queixa-se dos joelhos, tem as calças pretas manchadas de pó cimento/branco. Um polícia municipal encaminha-se para nós, “entrego-lhe” a senhora, certificando-me, insistentemente, que cuidará dela [é que por lá não é como por cá…acidentes por modo de obras…ai, ai o Ayuntamiento, ai, ai…]. Viro-me, para recolher “os meus pertences”: maravilha, pó de cimento/branco…em toda a minha roupa preta. “Estás liiinda! Haja saúde!”, sacudo o melhor que posso e adelante…

Chego à empresa em cima da hora, subo a correr 3 andares [eu, a mala-assoalhada e a maleta…], retomo o meu lugar dos últimos dias. Mas hoje, deixo escorrer um sorriso maroto, de cada vez que olho para a maleta, que dorme sossegada num canto…esperando a hora de, juntas, regressarmos a casa.
Alguns rostos amigos que vão chegando dão-me confiança e “a cumplicidade dos que sofrem” – a expressão é minha, nos nossos desabafos -, dormi mal, estou um pouco fragilizada. A força que sentia ontem, hoje faz-se sentir muito, muito subtil. “Mas isto já vai aquecer!”, animo-me. Da mesma forma, vejo alguns rostos de semblante fechado [analiso-os, detalho-os discretamente, afinal, “eu leio rostos”…e tiro as minhas conclusões!]. Intervalo ao fim de 1 ½ h, contra a minha vontade: “Avancemos, avancemos!”, mas não tenho sorte nenhuma, está tudo muito, muito cansado …(Mal)conformada, desço as escadas a correr, rumo à rua, para apanhar ar e fumar um (ou mais) cigarro(s).

Vejo uma senhora-jovem que empurra um carrinho de bebé, acompanhada de “uma” Pipoquinha…é quase igual à minha, totalmente branca, com as malhas pretas na barriga cor-de-rosa. Não resisto [não quero resistir…], aproximo-me e digo-lhe que tenho que lhe fazer festas, porque tenho uma [quase] igual e estou cheia de saudades…a senhora sorri (deve achar que sou louca, mas inofensiva, é o costume!), a canita não percebe nada [só deve perceber catalão…] e afago-a à minha vontade. Mostro à senhora a foto da minha Pipoquinha no screen do telemóvel, repetindo: “É quase igual à sua…”. Prosseguem os três e eu fico, fico só, de repente, na rua movimentada, a vê-las afastar, com a minha saudade. Esta é a verdadeira solidão…

A manhã prossegue, meu chefe bombardeia-me com sms’s [iguais às dos outros dias], se estou bem, se está tudo a correr bem…almoço rápido com colegas no comedouro [muita gente, muito barulho], mas tomamos café fora dali, num espaço aconchegante: 7 raparigas a carpirem as suas “mágoas”, misturando interesses: o trabalho, os filhos, os cães, os namorados…São muitos, muitos anos…de partilhas e desabafos!
A agenda da tarde é apertada, quero cumprir com rigor, para não me atrasar na saída para o aeroporto, mal me contenho de ansiedade [só quero “beijar a Portela!”] … Despeço-me de alguns colegas, naturalmente até ao fim do ano, se não for antes… A tarde é “mastigada” com assuntos de pouco interesse, monótona mesmo [ou serei eu, quiçá!].

“Sem querer”, saio mais cedo que o necessário, já não suporto mais…Em ½ h estou no aeroporto, faltam quase 2 h, quero lá saber: check-in [“agora, já não parte sem mim”, penso], dirijo-me ao Controlo: a funcionária é portuguesa, sorri-me perante o meu BI, retribuo com tanta a sinceridade. O colega atira-me com o costume: “tens dvd, portátil, cinto…?”, “Nada, só tenho vontade de chegar a casa”, “tira o casaco, a jaqueta…”, obedeço e digo à conterrânea: “ Se me mandam tirar a camisa, aviso já que não tenho nada por baixo…”, ela sorri-me, ninguém percebeu. Ele olha-me para os pés (não, não viajo com botas) e manda-me avançar. “Até qu’enfim!”, resmungo com os meus botões. Recolhida a tralha dos tabuleiros, passeio-me, passando por tantos: uns que partem, outros que regressam, imagino as suas vidas, faço filmes…

Não tenho vontade de compras (fica para a próxima…ou não!), quero ver as mágicas siglas: TAP. Aguardo na porta de embarque, ouço música, ligo à minha mãe, preciso ouvi-la, sinto saudades (o tempo está bom em Lisboa, 17º, não haverá atrasos, blábláblá…) e observo, como sempre, as pessoas. Desperto atenção em algumas, é o normal, mais do mesmo…

Embarque, sorrio de satisfação ao pessoal TAP; atraso na descolagem: um passageiro fez o check-in, mas não compareceu à porta de embarque. Por questões de segurança, a sua bagagem tem que ser encontrada no porão e retirada do avião. “Raios partam”, resmungo: além do atraso, agora vamos todos a pensar que pode ir uma bomba a fazer-nos companhia…o sr. Cmdt. não podia mentir, sff, e alegar qualquer coisita mais soft, não? Todos muito tranquilos, só eu devo ter escutado a explicação, é o que faz estar sempre alerta…o tempo passa, leva-nos uma hora que se reflectirá na chegada, e eu só penso em abraçar os amores da minha vida… a música acompanha-me, faz-me esquecer o troglodita ao meu lado: mal-educado, brutamontes, mal encarado…um horror!

Tenho pressa em sair, muita pressa mal contida, corro na manga, percorro o aeroporto e eis-me na rua…Beijo a Portela, beijo Lisboa, inspiro o “nosso” ar, com muita satisfação e um grande sorriso. Num instante, estou na minha rua, entro a correr, subo a escada a correr [quem tem paciência para esperar por elevadores?!] e entro em casa: o momento mágico acontece, a minha miudagem toda de volta de mim. Respiro de alívio e de emoção: eis-me no meu mundo. A maleta atirada a um canto, afago-os, matando as saudades, tantas saudades…Levo a Pipoquinha à rua, que brinca de satisfação, afago suavemente o capot do meu carro (ia jurar que mexe os olhinhos…tal como o “outro”), olho em redor: o jardim, os prédios, os carros, está tudo igual, mas para mim, mais belo que nunca…E sorrio à noite fresca.

…da maleta, só me interessa o saco de roupa para lavar, o resto tem tempo. Ocupo-me com trivialidades (quais quê, trivialidades? Em matar saudades dos amores da minha vida…), esperando que F. chegue, esquecendo a hora a que me levantei e que faltam também poucas para voltar a levantar.
Enquanto espero, acrescento ao meu bloquinho estas linhas; decerto que as minhas passagens por terras da Catalunha são diferentes da maioria das outras pessoas…

Nota: entretanto, já lá voltei esta semana…mas a narrativa fica para outro dia!

2 comentários:

maria teresa disse...

Tem um jeito enorme para fazer diários de viagens, descreve as coisas de um modo tão próprio, que eu "corri" consigo pelas escadas.
Tem razão! Consegui estar ao seu lado...
Abracinho

Anónimo disse...

É sempre um prazer, ler e re ler as 'crónicas da tua vida'.

Maravilhoso!

*