(…) “Segundo o DN apurou, o agente entrou normalmente ao serviço na esquadra às 9.00. Tomou o pequeno-almoço com os colegas e de seguida suicidou-se com um tiro no queixo.
O agente tinha 28 anos de serviço - entrou para a PSP em 1983. Ainda segundo foi possível apurar, o polícia em causa era uma pessoa calma sem problemas de ordem familiar, apesar de ultimamente estar a passar dificuldades financeiras.”
A notícia , em formato papel, é mais detalhada. Os testemunhos, pormenorizados, abonam a favor: pessoa calma e estimada, com funções administrativas... Em comum, todos defendem "nada transparecia..."
Raramente, aqui, abordo assuntos sérios: é uma salada-russa, um espaço lúdico e de pouco interesse. São, normalmente, desabafos surdos, traduzidos no (tão meu) aparvoar.
No entanto, esse é-me demasiado próximo para o deixar escapar, também pela assustadora frequência nos últimos anos. Convivi com o suicídio nos primeiros anos de vida e, desde ai, acompanho-o, sigo-o e já não tenho interrogações. Tornei-me acérrima defensora, baseado no slogan eutanásico: "a Vida é um Direito, não uma Obrigação", contrariando o comum "quem tem coragem de se matar, também tem coragem para viver"...
Entristece-me muito. Imenso. Tanto que não consigo traduzir... Entristece-me sobretudo neste cenário do "nada indicava...", porque há sempre indicadores, apenas não nos detemos neles...por 'pressa', desinteresse, 'ah, deixa lá isso...e anda beber uma imperial'.
Porque a vida - que levamos e que nos leva - devora-nos. Devora-nos enquanto seres...Recuso deixar-me 'papar' e insisto em 'ler rostos'...insisto em ler nas entrelinhas mensagens que pulsam em desespero (há quem se assuste com esta 'visão', com a ‘transparência’ revelada, mas não me afasta por isso...). Não dou grande importância 'ao que queres mostrar', ie, às aparências... de falsa segurança, falsa felicidade, falsos afectos.
Procuro o que os outros não vêem, apressados, nas suas corridas desenfreadas...sem saberem, muitas vezes, para onde se dirigem.
Entristece-me muito. Imenso. A ausência insana de atenção. A passagem 'levezinha' de uns pelos outros, sem lembranças nem marcas, insípidas e indiferentes…o interesse fugaz, a carência de profundidade…
Entristece-me muito. Imenso. o ‘não querer ver’, o mau-amor, imediato e escorregadio…a pouca dedicação…o imediatismo dos factos.
...Poucas pessoas sabem que jamais releio o que rascunho... e 'Prontus', já (quase) desabafei (por hoje!…)
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