quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Os Contemporâneos



O programa de hoje (na RTP1) teve a particularidade de “mostrar”, através do humor e da “ficção”, um exemplo de participação de violência doméstica na esquadra “de bairro”. Sendo a vítima do sexo masculino, a vergonha, o embaraço ao expor a situação ao agente de serviço, sem nenhumas condições de privacidade era demasiado evidente. Além disso, a troça do agente e de outros indivíduos presentes na esquadra, inibiram a vítima de apresentar queixa e terminou afirmando: “Agora, a minha mulher até anda mais meiguinha”: Isto é o talento humorístico a favorecer a realidade, porque, para mim, será bastante mais humilhante e imagino que as vítimas (sobretudo, masculinas) não participem agressões.
Bom trabalho, equipa d’ Os Contemporâneos! Continuem a atirar pedras ao charco!
Esta peça fez-me lembrar um episódio real, que nunca esqueci: há uns bons anos (talvez 13 ou 14), desloquei-me à esquadra da PSP da minha residência para participar um roubo por arrombamento. No balcão, à minha frente, encontrava-se uma senhora, jovem, acompanhada pela filha adolescente. A senhora, que apenas vi de costas, informou o agente de serviço que fora agredida pelo marido. O agente, que estava virado para mim, não evitou esboçar um sorriso e informou a senhora que devia dirigir-se ao hospital. Ela não argumentou e quando se virou para abandonar o local, desanimada, evitei olhá-la no rosto… enquanto pessoa, mais do que por ser mulher, senti vergonha, uma vergonha profunda pela atitude que tinha acabado de presenciar. Felizmente, não precisei voltar à esquadra, por nenhum motivo, mas nunca esqueci o ar de troça estampado na cara do agente.

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