sábado, 6 de junho de 2009

A “nossa” Jackie




(ifotografias reais, tiradas por CM)


A Jackie apareceu nas nossas vidas há quase um ano. Aproximavam-se os feriados de Junho e num dos piores dias da minha vida, conheci-a. Achei que era um desígnio superior…
Andava perdida, na terrível avenida onde está a empresa onde trabalhamos e a P. deixou-a segui-la até ao último andar, achando que, na empresa, procuraríamos o dono e porque quis tirá-la do pesadelo da estrada. A Jackie entrou, contaram-me, com o à-vontade típico da inocência, percorreu toda a empresa e achou que ali mandava ela, com tantas festas e mimos. O pequeno-almoço da Jackiet foram fatias de fiambre vindas do bar e comeu-as que se regalou. Alta, magra, aparentava menos de um ano. A meio da manhã, envio uma sms à Cris, dizendo: “Tou péssima, vou a caminho” e a resposta foi: “Anda, tenho uma canita a lamber-me a cara”. Quando cheguei, conheci a Jackie e confesso que nem ela me conseguiu alegrar. Depois de saber a história que acima descrevi, era hora de agir: a Jackie devia ter dono, trazia uma coleira típica de caçador, o que nos assustou logo: “Ela é muito gaiata para caçar seja o que for, foi abandonada”, apesar de relativamente limpa e bem tratada. Dispus-me a ligar para as clínicas e para as escolas da zona, à hora de almoço a P. foi colar cartazes pelas redondezas em zonas de fluxo como farmácias, Pingo Doce, Bombeiros (“aqui não a podemos ter”), Esquadra PSP. Que iríamos fazer? Ninguém a conhecia ou havia nenhuma notícia de estar perdida. A canita não podia ali ficar de noite e para nossas casas, bem, já estava tudo cheio. Quem gosta de animais, está atolado… Entretanto, almoçou uma dose de carne assada e arroz, lambeu o prato e dormiu. Quando meu chefe chegou, perguntou de imediato: “Quem trouxe pr’aqui a cadela?”, olhando para mim e para CM, mas deteve-se no meu rosto ainda sulcado pelas lágrimas e só disse: “Não pode ficar aqui”. Isso já nós sabíamos, mas não a podíamos pôr na rua. A tarde passou, levamo-la à rua várias vezes e não fez nada e a noite aproximou-se, não havia solução, AG levou-a para casa. Uma das outras suas duas canitas fez a vida negra à pobre e assustada Jackie, que só queria dormir e comer. Comeu ração para Caniche (Royal Canin, era o que havia) e foi para o veterinário. Não, não estava grávida, nem tinha tido o 1º cio. Confirmou que não estava chipada. Foi desparasitada e vacinada e AG arrancou com ela para outra casa, na Ericeira, onde dormiram na mesma cama. De manhã, apareceu com a Jackie na empresa. Continuava a não fazer as necessidades na rua e era urgente uma solução. A Jackie a afeiçoar-se a nós e nós a ela, que coxeava ligeiramente de uma pata. Na sala de reuniões principal, meu chefe no chão, com uma pinça de sobrancelhas de AG, comigo a segurar a Jackie, a AO com um candeeiro na mão a iluminar, retirou 5 pedaços de limalha de ferro. Tomou anti-inflamatório num bocado de croissant e nem choramingou. A Jackie continuava a comer ração para Caniche com muito apetite e outra noite a aproximar-se. Muitos telefonemas depois, foi para uma Clínica, onde erradamente nos informaram que aceitavam cães (afinal, aceitavam gatos, como hotel) e por ser uma clínica “conhecida”, a Jackie lá ficou uma tarde, muito sossegada. À noite, foi para casa dessa veterinária. Na manhã seguinte, a CM decidiu, “Eu levo-a e de dia fica em casa da minha mãe”. Assim foi, a Jackie gostou muito de conhecer os gatinhos da CM, cujo sossego acabou, dadas as tropelias da cachorra. De manhã, deixava-a em casa da mãe, onde a Jackie chorava todo o dia, sozinha. Ir passeá-la à hora de almoço e buscá-la à noite, e as queixas dos vizinhos a amontoarem-se. Com calma e paciência, CM (esqueci-me de dizer que é veterinária), ensinou-a a fazer as necessidades na rua. Na semana seguinte ao aparecimento da Jackie, aparece-nos um senhor à porta da empresa. “Não, não sou o dono, sou empregado do estaleiro onde ela vivia (dai a limalha de ferro na pata…), foi o segurança da obra que a deixou fugir”. “ Foi um colega que viu os cartazes no Pingo Doce” e disse-me, “eu nunca venho pr’aqui…” Resmunguei tudo quanto pude: “Fugiu, é? Nota-se que ela é muito de fugir…E só agora é que aparece alguém à procura dela? E quando ela fugiu/escapou/soltaram-na, não a procuraram porquê? E se fosse atropelada, como é que é? Quem é o dono? Há despesas a cobrar…Quem me garante que não volta “a fugir” e não tem a mesma sorte?!” Pois ao ouvir falar em despesas, o senhor respondeu-me: “Bem, as senhoras já se afeiçoaram a ela, já vi que está bem…” e saiu, prometendo que ia informar o dono. O dono é apenas um dos donos ali da freguesia, com negócios diversos, entre eles um hotel conhecido. Um mafioso, na versão de quem o conhece: nesse mesmo dia, tirámos a limpo a história (triste) da Jackie, os filhos do mafioso encontraram a cachorra e levaram-na para casa. Tudo esteve menos mal, até ao dia que ela lhe sujou o fatinho (Armani com certeza) e ele decidiu levá-la para o estaleiro, para guardar a obra...Mais do mesmo!
O tempo foi passando, a avó da CM adoeceu na mesma altura em que ela se iria ausentar em serviço. A Jackie não podia ficar sozinha em casa da CM com os gatos e procurámos um Hotel para Cães, perto de Tires. Ficou na maior box que havia e era bem tratada, ie, estava protegida do sol, passeava 2 vezes ao dia. Lá, chamaram-lhe Flecha, dada a sua agilidade e conquistava todos com a sua meiguice. A despesa seria a dividir por 4 de nós, e quando podíamos iámos vê-la e passeá-la. Já estava decidido que a Cris ficaria com ela, mas só quando a casa nova estivesse terminada (estimava-se lá para Agosto). Quando a despesa ficou insustentável, movendo-se todos os conhecimentos que havia, foi para uma Associação, no Cartaxo. Ali, passou mês e meio, pro bono, numa box limpinha e era estimada por todos da Associação (a troco de ração e medicamentos para os animais). Em meados de Agosto, quase a mudar-se em definitivo para a sua nova família, onde a esperavam outros 3 amiguinhos, foi esterilizada pro bono, num veterinário amigo da CM. Correu lindamente, antibióticos e pontos endémicos e a Jackie não podia estar mais feliz.



Quase um ano depois, a Jackie é a canita que estragou 3 cães adultos e agora são 4 a fazerem todos os disparates que há. Mas continua uma doçura e é super-meiga e paciente para as crianças da casa: fica muito quietinha quando B. lhe "faz festas" e lhe dá a chucha a lamber...
A Jackie é a "nossa" cachorra, que está gordinha e continua tão brincalhona como seria esperado. Ainda esta semana AG disse: “Qualquer dia, lá me cabe ficar com a Jackie”. Eu duvido que a Cris a deixe levar, a Jackie é a sua cachorra que nunca irá crescer e deixar de fazer disparates
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2 comentários:

Doggy Palooza disse...

que história tão bonita! obrigada por partilhares.

Ana Alvarenga disse...

Obrigada, Casa do Pinhal. A Jackie é muito, muito mais do que apenas isto...é a "nossa" Jackie, tresloucada, mas que amamos de paixão!