sábado, 10 de outubro de 2009

Ajudar faz bem






Sábado na cidade é sinónimo de “trabalhos forçados”. O dia começou cedo, para estar liberta pela hora de almoço, combinado com a minha mãe numa esplanada do Campo Pequeno [a vantagem de esplanadar é poder usufruir da companhia da Pipoquinha, que se deita pacificamente debaixo da mesa]. O dia magnífico exigia ser aproveitado e perto do fim da manhã, vejo 2 homens, nitidamente um mais velho e o outro bastante mais jovem a comerem de um saco do Modelo. Junto deles, 2 cães, também nitidamente um adulto e o outro cachorro. Enquanto cumpria os meus afazeres, fui-me apercebendo que os cães estavam deitados, muito sossegados e os homens comiam salsichas, chouriços, sumo, vinho e outras coisas assim prontas a comer.
Aproximando-se a hora de passear a filhota, coloquei ração num saco transparente e sai para a rua. Aproximei dos homens [a Pipoquinha a manter uma distância de segurança, a pensar: “Que vai fazer a doida da minha mãe?!”] e dirigi-lhes, com um sorriso tímido:
“- Bom dia, posso dar aos meninos?” – exibindo o saco.
- “Pode” – respondeu o mais novo. Aproximei-me dos meninos, que se levantaram de imediato e coloquei um montinho de ração junto de cada um. O maior ladrou junto à minha cara enquanto me inclinei e fiz uma festa a cada, recuando em direcção aos homens, que me observavam:
“ – Eles já comeram” – informou o mais velho.
“ – Sim”, pensei, “têm fatias de pão…” e insisti, esticando o saco:
“ – Importa-se de ficar com o resto?” – o mais novo esticou o braço, pegou no saco e respondeu: “Obrigado.”.
“- De nada.” – e voltei para perto da Pipoquinha, que tinha reduzindo a distância de segurança e estava pronta a actuar, em caso de necessidade.
Enquanto a chamava para os meninos comerem descansados, lembrei-me que tinha acabado de fazer uma sopa maravilhosa [ando em fase de me empanturrar de vitaminas, para combater o vírus da gripe sanzonal], talvez fosse agradável dar uma porção aos homens, mas tive receio que se ofendesse.


E subindo a avenida com a Pipoquinha, pensei que eram mais umas vítimas do alcóol, do vinho, que transforma pessoas em seres estranhos: são educados, estão mais ou menos limpos, não têm o ar típico dos toxicodependentes, são portugueses, sabem ler [vi-os a folhearem um jornal e um folheto de promoções] talvez, no passado, tiveram uma vida como a nossa…
É que sabemos como começamos, mas não sabemos como acabamos…
Ajudar, por pouco que seja, faz-me um bem enorme, dá-me uma felicidade que não sei explicar…

Quando desci a avenida, vi uma senhora que puxava insistentemente o seu Yorkshire, afastando-o dos 2 homens e dos seus 2 cães…como se tivessem lepra.


Passei por eles, sorri abertamente para os meninos e dirigi um sorriso tímido, de novo, aos homens, que mo devolveram, com ar agradecido.

Se todos quisermos, fazemos a diferença.
É que temos tanto que nem damos valor aos que não têm nada…


Mais tarde, pude observar da minha janela os homens a brincarem com os cães, a darem-lhes colo e festas e senti-me verdadeiramente feliz...

2 comentários:

S* disse...

É tão bom saber que conseguimos fazer alguem um bocadinho mais feliz. Gostava de ter coragem de ajudar...

Ana Alvarenga disse...

Sou uma medricas-corajosa, S*. Apenas não consigo ficar indiferente...