(na outra semana)
“- Tens umas cuecas na mala?” – troça F., olhando a bolsa transparente que espreita da mala-assoalhada.
“ – És tão cusco! Vou à depilação amanhã, não quero sujar com cera as da nova colecção…” – justifico, revirando os olhos – “E, fosse para o que fosse…” – subentende-se “…não tens nada com isso”.
“ – Porque não fazes definitiva? Já não te sujava …”
“ – És tãããão Maria, às vezes! És mais gaja que eu! E não me irrites, não me faças lembrar que tenho mais pêlos que tu…não andasse eu sempre em cima do acontecimento…Grrrr!”
(esta manhã, enquanto dobro roupa)
“ – Guarda essas, que ficaram aqui.” – estendo-lhe, concentrada na separação da roupa por montinhos, versus destinos de arrumação.
F. guarda-as no bolso do blusão.
“ – Tu estás parvo?! Não vais pra rua com isso no bolso…”
“ – Vou à depilação!”
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“ – Empresta-me o teu blusão dos F., o mais pequeno. Não ficava giro, com estas calças?” – e rodopio, dançando e balouçando a flor-gancho (ou gancho-flor, sei lá!) que me prende os cabelos atrás.
“ – Não podes ir pra rua com ele…” – adverte-me.
“ – Anda lá, o pequenino, tu pouco usas, só tem a insignía do lado esquerdo, tapo-a com uma echarpe, se vir algum polícia…não quero nenhum dos teus 58, estampados nas costas: os ombros ficavam-me pelos cotovelos, à palhaço… vá lá, não estou com ar muito …Ramones, assim?” – alusão às calças de ganga, botas de salto e blusão de pele, estilo 80’s, uma das minhas últimas aquisições, com cheirinho a raviollis.
“ – Tu tens calças de ganga?!” – pergunta, incrédulo.
“ – Fizeste a mesma pergunta há umas semanas, quando andaste à procura da minha roupa, “ò pá poças”. É assim: emprestas a bem ou a mal: tu vais sair e eu vou buscar o blusão… Anda lá, não vou longe, com estes saltos… e tenho que descarregar a máquina, para não me acontecer como da última vez, que esgotei a memória do cartão…só eu!”
“ – Só vou ao Aki…”- reviro os olhos: bricolage, mais parafusos e outras traquitanas, sem utilidade nenhum – “comprar lâmpadas, que já não temos.”
Calo um “está o armário cheio de lâmpadas, que chatice!”, não vale a pena e insisto: “Vai lá buscar o blusão, se faz favor…ia tão gira, amanhã, ao concerto, assim, com este estilo…mas, na empresa, morriam ao ver-me…quanto mais velha, mais maluca!” – largo, numa gargalhada.
3 comentários:
Muito divertido!
Cenas do quotidiano de uma grande cumplicidade...
Abracinho pleno de saudades.
Cenários da vida, Olga, :) Beijo
E que quotidianos, querida Maria Teresa, davam um filme ;), Beijo Grande
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