Voltas trocadas

- (…) “E hoje não vou fazer serão” – afirmo, determinada, em alusão aos últimos dois dias – “vou sair a horas decentes” – compasso de espera, intencional – “para ir ao concerto dos Tokio Hotel”, concluo com o ar mais convincente do Universo.

E o meu chefe olha para mim, petrificado, examinando o look teenager [troquei-me por calças de linho, túnica a condizer, sabrinas, colares e pulseiras de misangas], o seu olhar traduz um grito: “Passou-se!”

É-me impossível prender uma gargalhada, sonora e traquina: “Ainda consigo surpreendê-lo, após estes anos todos?”

- “Estava a ver…”, assume, de semblante mais leve.

- “Deixe correr o boato” – apelo, de sorriso maroto – “ a ver no que dá…”

Alinha comigo e escuto-o diversas vezes a afirmar: “A Tela vai ver os Tokio Hotel… sim, tem lá uma amiga a acampar há uma semana…”

Como não comemoro Dia(s) Marcado(s) para…hoje foi o meu 1º de Abril, o Dia das Mentiras…”ou bem que se lhe dá ou nem se lhe toca” – a frase não é de minha autoria, mas tenho pena: aplicamo-la a propósito de tudo e de nada!

E, audaciosa, abandono uma reunião, com naturalidade: “Se não se importam, tenho uns alemães à espera…”, deixando estatelados de espanto os restantes participantes, quatro sisudos directores financeiros – um dos quais, do pais vizinho, ainda questiona: “Quem são os Tokio Hotel?!” Dahh!

Amanhã não me posso esquecer de gritar aos quatro ventos: “O concerto foi espectacular!”