sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

E assim...



Nós não existimos. Nós recriamo-nos, inventamo-nos todos os dias.
Extingo-me a cada pôr do sol, para na aurora renascer.
Aqui jaz, no manto da noite escura, uma alma de luz, que se enrosca na tua - qual almofada de sonhos -, e revive a cada amanhecer.

Nós não existimos para os outros: existimos para nós.
O que sou, quem tu és, a ninguém importa: extinguimo-nos, abraçados, na chama crepitante de lareira, e em fumo criamos corpo.
... o corpo não é mais do que a morada de duas almas.



Tu lhes dirás, meu amor, que nós não existimos.
Que nascemos da noite, das árvores, das nuvens.
Que viemos, amámos, pecámos e partimos
Como a água das chuvas.

Tu lhes dirás, meu amor, que ambos nos sorrimos
Do que dizem e pensam
E que a nossa aventura,
É no vento que passa que a ouvimos,
É no nosso silêncio que perdura.
Tu lhes dirás, meu amor, que nós não falaremos
E que enterrámos vivo o fogo que nos queima.

Tu lhes dirás, meu amor, se for preciso,
Que nos espreguiçaremos na fogueira.

~ Ary dos Santos ~

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