segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Fim de Semana Diferente…ou talvez não!


Sábado:

Acordo “toda partida”. Olho para o relógio, dormi 5 horas. “Lindo, para sábado não está nada mal”, resmungo com os meus botões. Mas eu tenho que viver, eu quero viver, foram demasiados anos numa rotina casa-emprego-casa, agora, quero fazer tudo que me apetece. E se tiver que sacrificar alguma coisa, tem que ser o meu sono, não posso deixar cair nada…
Está uma manhã gelada, de nevoeiro cerrado, felizmente a Pipoquinha tem coleira reflectora, penso, não se vê nadinha…

(…)

F. vê-me dentro do carro, aproxima-se de mim e informa-me:
“ – Esse barulho é a correia do…”
“ – Mas eu não te disse nada… “– interrompo-o.
“ - …com este tempo, é normal” – prossegue, ignorando-me.
“ - …desde que não me deixe empanada…Tu é que sabes, quando puderes tratar, agradeço-te, para andar descansada.
“ – Não tens problema. Quando e se ficares empanada, chamas a Assistência.
“ _ Chamo-te mas é a ti…És muito mais giro!” – e recebo um sorriso – “Vou a …” – informo-o – “tenciono estar de volta numa hora e só vou depois dar uma caminhada grande com a Pipoquinha. Volto para casa e já não saio, tenho tanta coisa que quero fazer… Era para passar o fim de semana na Vila, preciso espairecer, mas nem te disse nada, quando soube que o tempo ia estar assim…
“ – É preciso alguma coisa da Makro?” – interrompe-me, as rotinas matinais de sábados de inverno: lavar o carro, atestar depósito, tomar café e ler o jornal na Makro ou no Ikea. Ir às Docas ver o Tejo, meter conversa com os “pescadores”, enfim, arejar as ideias. Tudo muuuuito calmamente.
“- Assim, de repente, sei lá! (pausa). Vê lá, alguma coisa que faça sempre falta, alguma coisa que valha a pena, sei lá!
“ - Ligo-te, se for preciso” – afasta-se, deixando-me a resmungar: “Mas porquê que este rapaz me deixa sempre o banco puxado para trás?! Agora estou aqui 8 dias para pôr isto como deve ser…”

(…)
Cheguei e já não saio mais. Tenho recebido, ao longo da manhã, “mimos” que me fazem sorrir. Quero aconchego, o meu sofá chama por mim, quero fazer como canta o Boss AC “ler os mails na cama”, mas não posso. Há coisas para fazer, volta e meia vou ao pc espreitar as news, envio mensagens, e retomo as minhas actividades, não as minhas mesmo, mas as que têm que ser…

(…)
Estou na cozinha, sinto o carro de F., eu “farejo-o” pela maneira como conduz. Pelo som do carro, sei que é ele, sinto-o de diversas maneiras. Abre a porta, e, de olhos arregalados, vejo-o despejar o elevador: “Meu Deus, trouxe a Makro cá para casa…Valha-me Deus, este rapaz não existe”.
Controlo a ira e o “Nem penses que eu vou arrumar isso…” já na ponta da língua, que transformo num:
“ – Já comeste? Acabei de fazer sopa…está maravilhosa…não tem, sequer, uma batata…não podemos adoecer agora, temos que ter vitaminas e aumentar as nossas defesas…”
“ – Comi qualquer coisa “ – enquanto, espalha tudo na cozinha e fecha a porta.
“ – Comeste porcarias, foi o que foi…Se nesse circo que trouxeste, há coisas com gordura, dá-me uma fanico” – aviso à navegação.
F. espreita o que estou a fazer e vai directo ao armário onde está a varinha.
Recalco o:” Lava as mãos, caramba…pareces um miúdo…e passa por água a máquina…que diabo” até ao momento exacto. Felizmente, não é preciso que esta frase veja a luz do dia, ufa! F. encosta-se a mim, cuja tradução é: “Deixa que eu faço…para não haver sopa espalhada pelas paredes e pelo tecto”, faço de conta que não percebi, e encostando-me à bancada oposta, acendo um cigarro:
“ – Quando foi que eu virei uma Maria?! Olha pra mim: eu mocinha tão engraçada, tanto eyeliner e cabelo esticado, estou aqui de rabo-de-cavalo e camisola às três-pancadas a FAZER SOPA?! NUM SÁBADO À TARDE?!” Enlouqueci de vez e ninguém me avisou…” – apenas obtenho um sorriso trocista como resposta e avanço, na ladainha de queixumes “ E tenho tanto frio”, murmuro.
“ – Está mesmo frio” – confirma-me – “liga os aquecimentos”.
“ – JÁ?! Se começo já a ligar, depois torna-se um hábito…Quando foi que começamos a sentir frio, F.?!”
“ – É a PDI” – olha-me irónico, sorrindo por cima do ombro.
“ – Pensei que era só eu que tinha frio, que estava a ficar doente, sei lá…Lembraste de andares em Janeiro, na Vila, só de calções? Até a mulher do …dizia que não te conhecia vestido, lembraste da risota que foi, quando um dia passou por ti e não te reconheceu, por estares com roupa?” – F. acena em concordância, também ele tem saudades desse tempo – “E de quando fui lá para cima, já nem me lembro o nome da terra, um fim de semana também no início de um ano qualquer, para uma porcaria de uma reunião, sempre com chuva, chuva e frio e de te ligar e tu dizeres que estavas na Vila, a mergulhar, que fazia um dia lindo?!” – olha para mim, enquanto lava e limpa a máquina:
“ – Pede ao S. Pedro o livro das reclamações…”
“ – Oh, às vezes és tão parvo” – quase que amuo e deixo-o sozinho, na cozinha, a arrumar a tralha que trouxe. Dei 2 passos e ouço-o chamar-me:
“ – Trouxe-te isto…e isto…aquilo é para quando for preciso…este faz sempre falta…” num rol interminável de explicações.
“ ‘Tá bem, obrigada, dá sempre jeito” – já me passou o amuanço – “ Come a sopa, está quentinha e faz-nos bem…” – insisto.
“ – Agora não me apetece, mais logo”.
“ – Ai, eu vou comer…pode ser que aqueça.”

(…)
Repimpo-me no meu sofá, na minha salinha [o meu Mundo] com a miudagem toda acampada em cima de mim. Consulto as estrelas, através da janela. Afago os meus amores, que dormem, tranquilos, numa beleza ímpar. Fico embevecida a vê-los dormir [deve ser isto que uma mãe “biológica” sente…], sinto-me em Paz, Serena, sinto-me eu, autêntica, e recordo imagens soltas dos verões na Vila, sorrindo para mim mesma: hoje foi um doce dia de Novembro.





Domingo:

Sou a primeira a acordar [para variar!]: sou a Bruxa Má no Castelo da Bela-Adormecida. Muito ensonada [cada vez estou a dormir menos!], olho, num relance os meus amores…inspiro a Paz que me transmitem e esboço um sorriso no escuro. Encosto-me a F., que dorme profundamente: preciso sentir o meu Porto Seguro. Este é o meu Reino! Que me alimenta, de onde extraio Força todos os dias.

(…)

Estou sentada à mesa da cozinha, a tomar o pequeno-almoço, a “pastar”, ie, a tentar acordar: já fui à rua com a Pipoquinha, já a alimentei e aos meninos, mas o meu cérebro ainda não acordou, são actos mecanizados. F. aparece, dirige-se ao frigorífico de onde retira algo, passa-me a mão no pescoço, acompanhado de “Bom dia” e afasta-se. Nem respondo, sabe que de manhã estou sempre “uma búfala”…Continuo a pastar, nem o café me acorda, olho para o relógio “São horas!” Que diabo, são sempre horas…Tenho tanto que fazer…Que quero fazer…

(…)

Estou na minha casa-de-banho. Olho-me detalhadamente ao espelho. F. passa no corredor, olha-me, pára e sorri. Chamo-o:

“- Olha lá” – pausa de reflexão – “Achas que “ – e repuxo o rosto com as mãos – “faz muita diferença?” – F. coloca-se atrás de mim, e olha o meu rosto no espelho – “Não tenho nenhuma ruga, pois não? Achas que as pálpebras estão a descair? E aqui, as maças do rosto? O pescoço está lisinho?” – pareço uma matraca, acompanho as palavras com gestos.
“- Isso são influências das tuas coleguinhas “- num tom notoriamente sarcástico e reprovador [a culpa é minha, conto-lhe tudo e ele, que as conhece, tira-lhes o perfil de imediato e, infelizmente, não se engana…] – “ vê lá se a …..e a ….têm esses “problemas” de tias?”– enfatiza a palavra “problemas”, ironicamente, numa alusão a 2 amigas minhas.
“ - Não é isso” – tento compor – “é que tinha decidido dedicar este fim de semana a mim, a mimar-me. Porque eu mereço! E cabelos brancos, vês ai algum?” – espalho a cabeleira para cima dele - “tenho que cortar outra vez esta juba, a miudagem já mo prende de noite, na almofada…Que chatice!”
“ – Não tens, não!” – tranquiliza-me – “eu é que estou cheio deles!”
Olho a sua imagem no espelho, e ataco, com ironia acentuada:
“- Pois! Mas aos homens…dão charme e as mulheres, são velhas, meu amor! Raça de preconceitos! Pronto, se não tenho, não tenho…Mas tenho que vigiar” – insisto – “hão-de aparecer!” – enquanto tiro o roupão e piso a balança – “Hei, não te atrevas a espreitar!” – ameaço, feroz.
“- Tááááááá bem!”
“- Hum…não está mal…vai indo… devagarinho…não está mal…” – concluo, com alguma satisfação – “Olha o meu rabo, está a descair?” – coloco a mão nas coxas – “tenho que trabalhar estes glúteos, não achas?” – determino – “e o…?
“ – Chega! Pára com isso!” – e sai rapidamente.
“ – Se não falo contigo destas coisas, vou falar com quem?!” – grito-lhe, indignada, para que me ouça na casa-de-banho contígua – “ com a porteira?!” – e continuo a resmungar, entrando na banheira – “às vezes, parece que és parvo…e não me vires as costas, quando estou a falar contigo…parece que és parvo!”

(…)
Passeio grande com a Pipoquinha, quero descomprimir: está muito, muito vento, ela escolhe onde pôr as patas, para não as molhar. Caminho olhando as árvores do jardim, quase não há ninguém, um ou outro passa de bicicleta. Não há pessoas com cães, para ela brincar. Reflicto em muita coisa, no dia de ontem, na manhã de hoje [não, já não estou “preocupada” com as eventuais rugas e cabelos brancos…estou a sorrir de novo!], encontro-me com a minha mãe, que vem almoçar connosco, sob o slogan: “ Não dormes o suficiente, não te alimentas como deve ser, a trabalhar dessa maneira, ainda adoeces…”. A Pipoquinha fica louca de contentamento ao vê-la, adora-a.
Voltamos para casa, a minha mãe vai-me contando coisas que mal ouço por causa do vento. Em casa, a primeira a ter petiscos é a Pipoquinha. Para os bebés também não faltam…E vamos conversando, cada uma da sua semana de trabalho, desbobinando mágoas, injustiças, os “nossos pequenos nadas”.

(…)
Recebo uma sms do chefe durante o almoço, pede para lhe dar “um toque” quando eu puder. Peço à minha mãe um momento, alegando “Tenho que ligar ao meu chefe”. Em segundos, faço o filme: morreu alguém (ou um familiar de alguém), vamos ter velório pela noite…ainda se for cá…e onde vou arranjar uma florista que entregue uma coroa num domingo à tarde? Enquanto espero que atenda, deslumbro 2 ou 3 que talvez o façam…Quando atende, estou preparada para a resposta:

“- Está bem?” – pergunta-me 2 vezes – “Está melhor?” – bisa, de novo.
“- Estou óptima” – asseguro-lhe, de sorriso escaqueirado. Hum, esta preocupação tem “água no bico”, assinala o meu radar – “Que aconteceu?”
“ – Era só para …blablabla…está a cair imenso granizo, estou aqui com o …. À espera de podermos sair do carro…blablabla” – enquanto o escuto, apetece-me gritar “E isso não podia esperar pr’amanhã?! Palavra d’honra” – “…se for necessário, envio-lhe uma mensagem…blablabla” – conclue.
“ ‘Tá bem, se precisar ligue, beijos e boa viagem!” – desligo a pensar “mas que p***** de conversa esta?!” Acho que só me queria ouvir, saber como é que estou, se não vou encostar à box…eu conheço-o, são muuuuuuitos anos.

Olho para a minha mãe:
“- O meu chefe tem cada uma! Se isto não podia esperar para amanhã, que diabo!” – não obtenho resposta, o seu silêncio significa: “Tu é que sabes!”

Terminamos o almoço, “Mã, preciso de dar uma caminhada, comi que nem um elefante”. Saímos as três, vamos conversando e observando a Pipoquinha, ambas embevecidas, tipo” Ela é tão bonita no meio dos verdes, não é?”
Acompanho a minha mãe ao Metro (separam-nos 2 estações), deseja-me boa semana, regresso com a Pipoquinha, que vai directa à caminha, estafada. Estou gelada, apetece-me um chá.

Vejo se alguém me ligou ou se tenho sms’s: tenho uma, de uma colega que está de baixa: pede desculpa por ter falhado, por outra e eu estarmos a fazer [também] o trabalho dela, que amanhã vai fazer o tal exame – “eu sei, não me esqueci que é um dia penoso para ti”, envio-lhe em pensamento. A tão depressivo texto, só posso responder:
“Pensa em pôr-te boa, para irmos beber uns copos ao BA! O resto ñ interessa, pensa em ti, nós vamos levando, não te preocupes, fachabor. Amanhã, estaremos cntg em pensamento, bjs gds, MUITA FORÇA!
Vou a remoer pelo corredor, fiquei ainda mais gelada com a sms. Vou ao mail: tenho um mail maravilhoso, de uma senhora MARAVILHOSA, que me faz sorrir e emocionar, em simultâneo. Sem palavras, que era muuuuito raro em mim até há pouco tempo, remeto-lhe uma sms, rápida, apenas para não a “deixar pendurada” – odeio que me façam isso, ponho-me logo a pensar parvoíces – atiro com o telefone, que está sempre no silêncio – os telefones a tocarem põem-me histérica e, ultimamente, apanho com cada sinfonia…

(…) e (...)
Vou jogar, para descontrair, vou reflectindo em alguns acontecimentos recentes, que me fazem sorrir…a miudagem está toda tranquila, começou a chover, mas, aqui e agora, é Primavera … Novembro tem dias doces!

1 comentário:

Anónimo disse...

Bem, entre sopas de fim de semana, arrumar de compras, passeios maravilhosos com o melhor amigo do homem (amiga neste caso), confidencias familiares e relax absoluto, eu diria que esse fim de semana foi, no mínimo, espectacular.

:)

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