terça-feira, 1 de dezembro de 2009

E o feriado chega ao fim…


Acordo cedo. Pareço um goraz: só olhos. De repente, sou só olhos. A manhã está cinzenta, a Pipoquinha reclama do piso molhado. Convenço-a a avançar, chamo-a, embrulho-me no casaco. Perto de nós, pára um carro amarelo-canário, de tunning [é raro para estes lados…]. Instintivamente, meto a mão ao bolso, apalpo a “minha arma-secreta”, apertando os dedos com bastante força em seu redor. Do carro, sai um homem e dirige-se a mim, deixando a porta aberta. Coloco os óculos escuros, o carro tem os vidros pretos, não se vê nada para o interior. O homem, por barbear, fica a um metro de mim [ainda ao alcance da trela que tenho na mão, enquanto mantenho a outra no bolso], pergunta-me onde é o nº qualquer coisa. Não sei, não faço puto ideia, não quero saber, estou a dormir em pé, por favor, tive uma noite péssima, ninguém tem culpa, mas não se metam comigo, deixem-me, se faz favor. Insiste, que lhe disseram que era em frente ao…, num 9º andar. Aponto com a trela um prédio lá longe [quero é ver-me livre disto, desculpe lá, mas não sou o Posto de Turismo].


A Pipoquinha vira a esquina de um prédio, ouço um grito histérico: a dona do S___ [que tem uma depressão profunda há anos, mas eu também não tenho culpa…] gritou e pegou no cachorro (caniche amoroso morde a tudo quanto mexe] ao colo: “Não precisa gritar!” – peço-lhe, melhor, imploro-lhe e aproximo-me da minha pobre filha, que olha para aqueles dois, imóvel e estarrecida. “Desculpe, estava a falar ao telefone com a minha irmã e assustei-me..”, interrompo-a, com um suspiro, “Tudo bem”.
É muito acontecimento para a minha pequena cabeça, conclui, e chamo a Pipoquinha, que não se faz rogada…
A miudagem vem receber-me, querem festas, querem mimos. A Pipoquinha quer é cama e salta para cima do dono. Ouço-o a falar com ela, estão ambos a brincar, parecem 2 miúdos e não consigo [nem quero!] evitar um sorriso…É disto que eu gosto, é isto que me alimenta, é isto que me faz feliz…

F. aparece quando já terminei o pequeno-almoço, abre o frigorífico, retira qualquer coisa e senta-se à minha frente. Conta-me a noite de ontem, vou respondendo com a lengalenga do costume: “Faz isso porque dá contigo” e “Só tu para o aturares.” Tem o bom senso de não comentar o meu aspecto de goraz, nem o que o provocou…Expõe-me os planos para o dia, e os motivos que tem…”Cá por mim, não tenciono fazer nestum, preciso de espaço, preciso de tempo para não fazer nada”, participo-lhe, enquanto bebo outro café.
Olho à minha volta, anoto mentalmente as prioridades [isto de não fazer nestum não é bem-bem assim…]

F. sai, precisa espairecer, eu sei! Ligo “este companheiro”, vejo mails, brinco na net, dou mais umas voltas, volto aqui, “faço/digo umas maldades”, dou mais umas voltas, sob o olhar atento da miudagem, que quer dormir em paz, volto aqui, passeio na net, adianto um post que está por concluir “há séculos” e, por uma ninharia, “desabo” de novo…Não, decido, isto assim não pode ser. Encontro o que preciso num frasco no armário da cozinha e vou passear com a Pipoquinha: passear, caminhar, lavar a alma com os pequenos chuviscos que me sorriem e troçam: “És parva! Uma grande parva!”

Passeamos as duas até à hora de almoço, almoçamos todos, aproveitar para pôr a conversa em dia, para brincar com a miudagem, para fazer o que apetece. Sabe tão bem esta liberdade! Mas tão bem mesmo que é impossível expressá-la.
Volto para me divertir, jogar, descontrair, qualquer-coisa…Sem querer e sem dar conta, a tarde toma outro rumo e deixa-me exausta: pensei muito, controlei-me e descontrolei-me muito, escrevi o que queria e o que não queria…Muitos avanços e recuos. Não, decididamente, assim não dá...
Vamos para a rua, caminhar: adoro caminhar sózinha, vigiando a Pipoquinha. Encontramos uma cachorra que me adora, brinco com ela, chamo-lhe Ritinha (ela é mesmo uma Ritinha...). O jardim está deserto, que bom! É todo nosso...Só para nós!


Já perto do fim da tarde, volto a mim, ao que sou, aconchego-me na miudagem, as ideias fervilham, a criatividade rompe-me a pele, os projectos saltam todos ao mesmo tempo, exigem ganhar vida…o dia passou num ápice! …Quando nos sentimos bem, é o que acontece…






4 comentários:

Anónimo disse...

A companhia dos que nos amam, faz-nos sentir tão bem... :)

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maria teresa disse...

Será que posso dizer que sorri, sorri muito, ao ler a descrição do seu dia de ontem? A Tela ao escrever, consegue fazer com que eu a veja, com que eu caminhe invisível, aí ao seu lado. Penso que isso é um dom, a expressividade na escrita, não se aprende,...sente-se e regista-se no "papel".
Bjis

Anónimo disse...

Concordo plenamente com Maria Teresa:))

A expressividade na escrita é algo que só 'nos sai' quando, realmente, a sentimos. Todos nós conseguimos caminhar a seu lado, invisíveis fisicamente, mas muito presentes espiritualmente. Não há como ficar indiferente aos teus textos... cada vez melhores!

Continua assim... solta, livre... em Paz.

:))

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Ana Alvarenga disse...

Maria Teresa, venha, venha comigo, sempre que quiser!!! Sabe que é muito benvinda, sempre benvinda :)))Bjs gds

Black Horse: é tao simples, mas tão simples sentirmo-nos bem, que, por vezes, nem nos apercebemos :-) Bjs gds