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Passo por F. com um braçado de roupa, com cara de pseudo amuada-triste:
“- Bem, parece que o Verão acabou (suspiro), que tristeza!”
“ – És capaz de ter razão, se bem que” - e inclina-se para a janela - , "as pessoas de guarda-chuva, gabardines, tempo cinzento e frio…Nã, esses é que devem estar enganados…” – troça.
Reviro os olhos, cuja tradução é: “És tão parvo, só me pões pior, com as gracinhas…” e pouso a trouxa de roupa, onde sobressaem cores fortes: azul turquesa, laranja, amarelo, branco, rosa, de todos os tons…quentes, quentes e aconchegantes.
Não, não é uma trouxa de roupa, apenas: são os meus vestidos de Verão .Levo-os à cara, inspiro profundamente [até ao Centro da Terra] e fecho os olhos: cheiram a mar, cheiram a areia, cheiram a sol, …cheiram a mim. E fico ali, perdida, perdida em memórias de verões na Vila, de sabores antes vividos.
Pouso-os de novo, carinhosamente. Pego um a um, acariciando-os para sentir, de novo, os momentos, tantos momentos que partilhámos. As imagens passam-me numa velocidade espantosa. São tantos e tão intensos, que consigo senti-los de novo, com uma exactidão real.
…quando voltar a tocá-los, já não cheiram a mim. E vão-me esperar, pacientemente, num armário, guardando com eles estas memórias e esperando outros momentos, outros segredos, outras descobertas…
“Deixe lá, D. Tela” – disse-me anteontem a Lu, do meu spa – “daqui a nada estamos em Março, o tempo passa a correr!”
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