quinta-feira, 29 de abril de 2010

Uma 2ªfeira diferente ou Chegou o Verão




Já todos se queixaram do calor repentino que se fez sentir no início da semana…agora que a semana se aproxima do fim, eu não me queixei…

De véspera, deixei a Vila, de olhos rasos de água:

“- Ficava, agora, aqui uma semana” – de olhar perdido no mar.
“- E porque não fica?!”
“- Não posso…melhor, não devo…” – balbucio lentamente – “estou cheia de trabalho” – esta frase coloca-me de novo encurralada – “mas ficava, acreditas?, só com a Pipoquinha e os meus “melrinhos”, que me adoram…só…mas lá para o fim do mês que vem, tiro uns dias” – a ideia devolve-me o sorriso.”

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“ – Basta olhar para si para ver que chegou o Verão” – diz-me à laia de cumprimento.
“ – Achas?!” – entre o radiante e o inseguro – “Pareço uma hortense!” – largo numa gargalhada.
“ – Nem é preciso sentir a temperatura, basta olhar para si” – insiste a vigilante-segurança, e ainda é tão cedo…
“ – Bem, deixa-me ir: sou uma hortense “mascarada” de arco-irís…” – e afasto-me, chocalhando os brincos e o colar de mil-cores. “Ontem custou-me tanto, mas tanto, a ideia de vir…”, chuto por cima do ombro, afastando-me a passos largos.

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Fecho-me. Nos ouvidos, música da época a bombar… mas a bombar mesmo! Grande espectáculo de playback! Ao vivo! Para trás, ficaram as pieguices, agora são as “imortais”, as velhinhas, puro rock, as clássicas, as de sempre. Encarrapito-me na secretária, com o flip-chat em frente, alterno marcadores coloridos, que utilizo como microfone e ajudam-me nos solos de bateria*.
A empresa está quase vazia [pudera, com este tempo maravilloso, só meia-dúzia de tótós e esses não me estranham: entre o olhar perdido nas nuvens, avaliando a velocidade do vento sul no Inverno ou o show de Verão, ninguém estranha. Traduzo para o papel a ideia do fim-de-semana, já atirei as sabrinas para um canto e balouço as pernas enquanto esboço. O tempo passa, devora-me sem dar conta [hum, tenho que ter cuidado: já na semana passada “senti” o vírus envolver-me e tenho que o combater…não, workolic nunca mais].

Quase ao fim da tarde, o chefe aparece, e “visita-me”. Retiro os phones e escuto:
“- Vai para a praia?” – pergunta, com um sorriso irónico.
“ – Mais tarde, já-já não posso” – é melhor assim, ignoro: se se refere aos pés descalços, à flor que já vai quase na ponta dos cabelos e ao poncho transparente, de franjas espaçadas e fininhas, que me escorrega pelos braços [LM e eu comprámos “um lote” deles há uns anos, numa loja que já não existe e estes ponchos sempre suscitaram curiosidade aos meus colegas, não percebo porquê…]…travo o olhar na camisa Desigual que enverga…e o meu olhar diz tudo: muito adequada, também, por acaso… - “veja o que estou a inventar” – apelo, utilizando uma régua de 40 cm para expôr, na falta do ponteiro luminoso. Escuta-me, acenando com a cabeça, em sinal de concordância. Por fim: “Dê-me um cigarro, vamos fumar.”

Saltito da mesa, calçando-me, contrariada. Quer “falar”. Esfrego as sobrancelhas, enquanto debita pelo corredor: “…vamos patrocinar os motards…blábláblá…já viu o mail? Para a semana, vamos para Córdoba…”
Vou escutando, enquanto o ar quente da rua me envolve, transportando-me para outras paragens e continuo acenando a cabeça, não me resta outra opção. Vou escutando…


“- Fui! Para mim, a-c-a-b-o-u! Vou às Docas, celebrar este lindíssimo fim de dia, beber um copo…”
Olha-me, muito sério:
“ - … de água, de coca-cola, não se assuste!” – largo numa gargalhada – “Quero ver o pôr-do-sol, quero dançar…Beeeeijos!”

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“ – Quero música boa, se faz favor, quero cantar, cantar tudo a que tenho direito…” – enquanto prendo o cinto.
“ – Às suas ordens, madam! Que tal o dia?”
“ – Perigoso: “entretive-me” a trabalhar, são os primeiros sintomas…Quero cantar, se não te importas, músicas do nosso tempo…” – insisto, “batendo com os máximos”, num tom que não admite recusas.
“ – E que tal 6ª, a festa na Kapital? Tem tudo o que gostas…”
“ – Nem pensar! Quero ir cedo para a Vila, só penso nisso: esta semana é tremenda, é a Feira do Livro, com concertos e Happy Hour a partir das 22:30 h, é os Mão Morta no Coliseu [não gosto, mas o Fernando Ribeiro vai cantar um dueto com o Aníbal Canibal Animal Qualquer-coisa-que-rime…e é uma grande tentação!], é uma moça qualquer no Pav. Atlântico, é um moço que gosto, David Craig, não sei onde, no Lux?… e eu ando endiabrada! E além disto tudo, tenho vida, né?”
“ – E que é isto senão viver?...”

Eu não digo?! Somos [demasiado] iguais, for God sake…

* Os meus solos de bateria assentaram nisto:

3 comentários:

maria teresa disse...

Estou gostando cada vez mais daquilo que escreve, mesmo que possa fantasiar um pouco, tem mum toque de realidade muito grande, mostra uma vida "agitada" mas feliz, com tudo a que tem direito...:):):)
Aproveite bem, sei que aproveita!
Abracinho

Ana Alvarenga disse...

Aqui não houve lugar a fantasias, Maria Teresa, inclusive algumas "loucuras" foram suprimidas :) Tenho dias verdadeira/ surreais, rodeada de doidos...Beijo Grande

S* disse...

Eu não me queixo do calor... parece que toda a gente fica mais alegre!