Encontrei-te no fim de uma rua qualquer, ao terminar um outro dia, igual a tantos outros.
Deparei-me com um par de sapatos diante dos meus pés, que me fez desviar, erguendo o olhar de soslaio.
- Não vás - apelaste-me - procuro-te há tanto tempo!
- A mim?! - retorqui, indignada e surpreendida - mas..., se nem me conheces.
- Enganaste. Conheço-te desde sempre...
- És doido! - vociferei, pretendendo prosseguir o meu caminho.
- Serei, sim. Doido... - confirmas num sussurro.
Observo-te agora com atenção, presa no teu olhar. Olhos castanho-acinzentados, iguais aos meus, flamejados pela luz difusa do entardecer.
- Estranho - penso em voz alta - os teus olhos são exactamente iguais aos meus... é tão igual o nosso olhar! - surpreendo-me.
- Acreditas agora?! É por isso... é por isso que te procuro, incessante, há tanto tempo - enfatizas, num apelo - somos almas gémeas.
- Não pode ser verdade - recuo, convicta - tu não existes.
- Existo, claro que existo. Duvidas da tua própria existência? Existo por ti e para ti.
Existo em ti e tu existes em mim.
Além da matéria, existi sempre ao teu lado. Mas agora que te encontrei...
- Ah, deixa-te disso - interrompo de forma abrupta - tu não existes.
- Sabes bem que sim, sou real e estive sempre ao teu lado. Mas agora, neste momento, tu sabes, tu conheces a nossa realidade.
- Se for verdade... assusta-me. Mas nada é para sempre - concluo, cabisbaixa.
- Tens razão, nada é. Mas nós...nós somos Tudo.
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