domingo, 12 de abril de 2009

Lembranças dos tempos


Na casa dos meus pais, nunca houve mesa de cozinha. A minha mãe achava abominável e continua a achar (e a não ter mesa na cozinha). As nossas refeições eram sempre tomadas na sala de jantar, incluindo pequeno-almoço, que a minha mãe sempre fez questão que fosse a refeição mais completa do dia (e continua a achar). E fazia questão de transportar num tabuleiro os géneros para o pequeno-almoço, terminando sempre com a cafeteira da máquina do café. Era sempre a última a chegar e parece que ainda sinto o aroma, quente e acolhedor.
A minha mãe achava (e continua a achar) que a cozinha era o seu reino e, para isso, não havia lugar para mesa ou cadeiras, era para se mexer à vontade, como afirmava (e afirma). Assim, mesmo os lanchinhos a meio da noite, onde invariavelmente muitas vezes nos encontravam todos, eram na sala de jantar. Mesmo ao voltar da escola e almoçar sozinha, era à mesa na sala de jantar. Estava de tal maneira habituada que nem sequer questionava…
Na minha casa, temos mesa e cadeiras na cozinha. A minha mãe acha abominável. “Com uma sala de jantar tão bonita como tu tens…”. A cozinha não é o meu reino. A cozinha (felizmente grande) é onde tudo acontece. Excepto cozinhar, na maioria das vezes. É lá que ligo a tv pela manhã, é na mesa da cozinha que abro este portátil, é nas cadeiras da mesa de cozinha que se deitam os meus gatos, é onde os dois micro-ondas estão constantemente a funcionar para tudo e mais alguma coisa, é também onde a Pipoquinha tem uma caminha, é onde nós, muitas vezes, conversamos, discutimos, fazemos comida ou tomamos decisões. A cozinha não é o meu reino, mas, muitas vezes, é o fulcro da casa.


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