domingo, 18 de abril de 2010

E quando chego...




…abro a porta num ápice. Quero certificar-me, quero abraçar a miudagem, quero, quero, quero.

No escuro, a Mariazinha torce o pescoço para me ver: “Ah, já chegaste?”, a Maria olha-me muito séria. Ambas se dirigem a mim, espreguiçando-se. A Pipoquinha faz-me uma festa, mas idêntica à que faz todas as noites quando regresso, nada de especial. Afago-a, pego nas Marias ao colo, abraçando-as. Estão mais interessadas em dar-me marradinhas e a cheirarem-me…Soltou-as e pego no João, que, entretanto, surgiu dos armários onde reside. Não sentiram a minha falta e isso inunda-me de alegria!!! Só eu morri de saudades deles… A Pipoquinha cumprimenta o dono, que transporta a minha mala e um saco de plástico:

“- São da minha frutaria. Estes não encontras no super-mercado. Olha como cheiram bem …" - exibe morangos maravilhosos, são os meus mimos.
“- Tens uma frutaria?” – enfatizo, troçando – “Pensava que a única latifundiária era eu…” – ironizo, não desperdiçando a oportunidade de brincar com F., que faz constante troça dos meus FarmVille. E continuo: “trago quilos de pasta agarrados aqui” – enfatizo, batendo num quadril – “mas umas centenas de euros mais leve com as compras que fiz” – relembro secretamente as bijutarias dentro da mala, que não são Tous, mas dão-me a mesma alegria [ou quase, pronto!] – “portanto, durante um mês só vou comer maças…” – informo, determinada, mas , contradigo-me , e retiro um morango do saco, passo por água e trinco-o até ao pezinho verde. "Hum, delicioso!"
F. sabe que não resisto a morangos e procurou os melhores. Faz-me sentir em casa!
“ – O que me vale é que andei a pé tudo quanto podia, para manter as pernas rijas e galderar o mais possível” – sopro, com ressonância de lábios, como uma búfala – “e com esta porcaria dos líquidos, sem os meus cremes, venho desidratada do ar condicionado, mesmo bebendo litros de água” – refilo o habitual, F. já nem liga, enquanto arranja os morangos. “Estou uma uva-passa, mas ainda sou Aquela Máquina” – exprimo um sorriso vitorioso e malandro, numa leve alusão ao slogan [antiiiigo!] da Regisconta [ou seria da Xerox?! Who care’s?].

F. interrompe o que faz e leva a Pipoquinha à rua, enquanto retiro a roupa para lavar da mala [os “indispensáveis” mantêm-se, em breve irão passear de novo]: a camisa marfim tem uma irmã, em branco, alva, da cor da Paz. Usei-a pela última vez em Janeiro, num dia preenchido de traquinices, uma semana antes do frio polar assolar Lisboa. Não consegui voltar a vesti-la, traz-me demasiadas lembranças. Tal como o twin-set que usei há 6 anos, numa manhã de Quinta-feira Santa…e não voltei a usar.

“A gente não esquece quando quer, esquece quando pode” ouvi dizer.

Mas não são horas de filosofias baratas, nem de lembranças dolorosas, decido, convicta.

Estou de volta, não há vulcão que me detenha [tive muita sorte, acho eu!], estou de volta à minha casa, à miudagem. Sou, de novo, eu. E estou feliz!

2 comentários:

Olga Mendes disse...

Não se resiste a morangos. E os homens sabem ao que nós não resisitimos.

maria teresa disse...

Já vi que voltou e muito bem disposta. É uma pessoa realizada, não é?
Abracinho e benvinda.