sexta-feira, 22 de junho de 2012

A Família Von Trapp



"Têm uma família maravilhosa", não posso deixar de expressar, num excelente francês a la Mário Soares. Deparo-me com o quadro: casal com dois filhos adolescentes, numa autocaravana, um misto de TIR com nave de Espaço 1999, tendo penduradas uma moto (giraça) e os respectivos capacetes, e algumas bicicletas, amontoadas. Fazem-se acompanhar de 2 canídeos de porte médio-grande e um felineo. Todo este aparato encontra-se no estacionamento da área de serviço, à sombra, a descansarem. Os cães estão deitados em almofadões, e, apesar de usarem trelas, estão imóveis. O gato (que pela cara, é uma gata), totalmente preta e de coleira vermelha, prefere a frescura da relva.

O francês sorri-me, com o sorriso típico dos turistas pelas nossa terras. Os miúdos, de bermudas compridas e ar descontraído, brincam com uma bola, bem comportados, como parece (só) ser com as crianças estrangeiras. Olham-me com algum (pouco) interesse, talvez impressionados pela pronúncia impecável de quem nada mais diz além de "merci" e "bonjour" há quase 20 anos, os mesmos que me separam de multinacionais gaulesas. 

A francesa agradece e sorrindo-lhe aponto a minha Pipoquinha, que se rebola na relva, sob o olhar atento da minha mãe, enquanto um casal de meia-idade se surpreende: "Ò Zé, olha como coça as costinhas" [chamar costinhas ao lombo da Pipoquinha é uma profunda falta de vista, mas o encanto está no carinho, que se iguala à ternura com que acaricia o pincher-anão que "o Zé" aconchega ao colo].

A família Von Trapp olha e sorri para a minha gaiata e tento explicar [no que me havia de meter: só mais de ver e calar, não de ouvir e engolir...] que os outros ficaram em casa: os gatos são mais caseiros, como conseguem viajar com todos eles? Explicam-me, com simpatia, que em Portugal não é fácil [mas que grande surpresa! Em Portugal, nada é fácil!], mas em Espanha não é complicado. 
Expresso um olhar de complacência, que se traduziria num "pois!" e desejo-lhes uma boa estadia, que aproveitem a nossa comidinha e as nossas praias. A francesa responde que sim, que estão a gostar e que espera ficar da minha cor... "Se ela pensa que fica da tua cor, bem pode cá ficar eternamente e não vai passar de um camarão escaldado", objecta a minha mãe, salientando a lourice daquela (maravilhosa) família.

Esta família pode não cantar Edelweiss ...mas, a mim, encantou-me ... e é com um largo sorriso que imagino, agora, as suas viagens por terras lusas, a nossa beleza, mas também os entraves que colocamos a famílias nucleares, e tão, tão especiais.
Certamente, consideram-nos uns barulhentos e bárbaros, apesar de simpáticos. É surpreendente: toda aquela feira no mais absoluto silêncio. Inacreditável!

[Gostaria de os ter fotografado, para eternizar este momento]


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