terça-feira, 22 de julho de 2014

Lembranças



Encontrei uma carta que te escrevi faz para o ano muitos anos.
Era Junho e, nela, falava-te da nossa praia, das pegadas que marcámos na areia, das ondas pequenininas que nos beijavam os pés.
Falava-te das estrelas, quais freixes de Luz e Esperança, que acariciavam as noites que passámos deitados na relva macia, apenas a contemplá-las e a trocar segredos - cumplicidades - em surdina:
"Sabes o que eu queria agora?"
"Sei... não...não sei...sei sim..." (risos)
"Sabes nada!"
"Sei, sei! Oh, lá estás tu..." (risos)
"Lá estou eu o quê?"
"Lá estás tu... a baralhar-me!"
"Ai, eu baralho-te?!"
" Só quando estou distraída, ora!"
(...)
E as estrelas, lá no alto, brilhantes na noite junina, riam-se, troçando, cochichando até; por várias vezes as mandaste calar, mas pouco te obedeciam. Tal como eu.
E, sim, escrevi que rezingávamos como dois velhos, às vezes. Mas brincavámos como dois miúdos noutras, descobriamo-nos como dois adolescentes de dia e amavamo-nos - como só os amantes o fazem - de noite.
E descrevi-te o mar, as rochas - as nossas rochas -, as grutas frescas que refrescavam os corpos tostados pelo sol, pequenas lagoas recheadas de caranguejos, que teimavas em pôr a passear nas minhas pernas - os nossos risos ainda ecoam nas grutas, sabes?

Encontrei uma carta que te escrevi. O papel amarelado jazia num bolso do teu casaco. O botão do punho esquerdo estava perdido e os meus dedos choraram de saudade, numa noite quente de Junho.

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