terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O dia de ontem prometia ser calmo, mas…

…levantei-me muito contrariada: trabalhar numa ponte?! NÃO!!!!
Com muito esforço [tudo me impele para Vale de Lençóis, onde está a miudagem toda, grandes e pequenos], convenço-me: “Vamos lá!”
Vejo-me ao espelho: “Meu Deus! Estás um horror, levas uma hora a sair para a rua sem matares ninguém de susto…”, os meus botões escutam, grandes confidentes.

Pelas 7 h, envio 2 sms: uma colega que vai ter um “dia difícil” e um colega que atravessa “dias difíceis”. Para quê?!…Não sei, para lembrar que não estão sós, para que saibam que estou com eles, para…sei lá, talvez para nada! Faço aquilo que o coração me manda…
Mentalmente, revejo o plano do dia, enquanto tomo o pequeno-almoço, a olhar, sem ver, a televisão. Nada me atrai, nada me desperta…

Convencer a Pipoquinha a sair da cama não é tarefa fácil: puxo, empurro, chamo em sussurro. O “milagre” acontece depois de muita insistência [isto começa bem…], mas a rua está molhada e S.A.R. não quer molhar as patinhas…mais do mesmo e o tempo a passar!

Subo, afago a miudagem, desço, corro em direcção ao quiosque, Bom Dia, se está tudo bem, se correu bem a viagem, que tal o baptizado, numa alusão a sexta-feira. Depressa, por favor, dê-me…estou tão atrasada: a Pipoquinha não se despachava. Concordam: com a chuva, os canitos…

No metro, mergulho no jornal [não, afinal não preciso “tapar” a cara com ele, isto lá se compôs…] e sinto um toque no braço: “Amor, onde vai sair?”, “ A senhora quer passar?” – levantando-me – “Desculpe, estava distraída…”, “Eu sou falei agora…”, justifica-se. Dirijo-lhe um sorriso, enquanto se ajeita, admiro estas “avózinhas”, assim, de resposta pronta.

Chego ao destino, cumprimento um segurança, um jardineiro [parece um Pai Natal magrinho, magrinho e vestido de verde, na sua tarefa inglória de juntar as folhas molhadas], que responde “Bom dia, minha senhora”. Seja… é a vida, suspiro.
Galgo as escadas [elevadores?! Quem tem paciência para esperar por eles?!] sacudo a poeira cá fora e expiro: “Vamos lá dar cabo deles…”, entro em Vale de Loucos, brinco com a recepcionista. Faço-a rir, é o meu prémio! Dirijo-me para o meu canto, casaco, mala-assoalhada, fico 5 kg mais leve, respiro fundo, ligo o “companheiro de luta”, espero, bocejo. Ouço a voz duma colega e grito-lhe:” Maria, cá estamos…as Marias!” Responde-me que sobra sempre para os mesmos…Pois, consolo-me, grande novidade.
Grito para o écran: “Mas toda a gente decidiu “amar-me” este fim-de-semana?!” - perante a quantidade de mails a vermelho – “eu vim trabalhar para fazer o meu trabalho, não o vosso…senão não estava aqui…Bolas!”
O telefone vibra, uma sms. “Hum, ou é coisa boa, ou é coisa má…a esta hora!” avisa o meu desconfiómetro, que está tão esperto [ou desperto…] quanto eu: é boa, é um “miminho”. Olho para o céu e peço às nuvens, que correm escuras e velozes, que levem uma mensagem: como eu precisava disto, agora! Parece-me ver Pégaso, talvez ele a leve, para chegar mais depressa…
Despacho, despacho-me afincadamente. Chovem telefonemas, parece que todos adivinharam que estou a trabalhar, de Espanha, dos colegas, dos outros colegas, do diabo-a-4. Phones a bombar. Dou por mim, tenho fome, são 11 h. Já são “horas decentes”, ligo a J1, que me atende com a sua melhor voz [o que faz ser “miúdo”!!! Parece que é segunda-feira para todos, excepto para ele]:
“ – Blablabla…já vi os teus mails, não tinhas nada melhor que “amar-me” ao fim de semana?! É já vi que foi bom, já…raça dos miúdos…já te respondi a tudo. Disseste que vinhas cá, estás perto? Apetece-me tomar um café com um miúdo giro, estou rodeada de gente “feia” …E contas-me os teus amores e desamores…”

Não tenho sorte nenhuma, responde que café só se for à tarde…blablabla…”Não venhas tarde, se queres falar comigo, tenho compromissos” – recomendo-lhe. Garante-me que não.
Atravesso o corredor. Passo pela recepcionista, digo-lhe que se perguntarem por mim, que fugi com um ciganito …ela ri-se e aproveito para lhe dizer que o cabelo dela está giro. Cora de satisfação, “Mas eu não lhe fiz nada”, isso não interessa, está giro. Ela precisa…e não custa nada…um bocadinho de atenção…custa alguma coisa?!
Café ao balcão, nem olho em volta, antes só que mal acompanhada. Olho para a Sic Notícias, desinteressada. Fumo um cigarro no percurso [ou melhor, quem fuma é o vento…]. Espreito outra vez no átrio, hoje não temos segurança…Galgo as escadas. A recepcionista está ao telefone, não me vê à porta: “Bonito” – digo com os meus botões – “esta rapariga já não consegue fazer 2 coisas [simples] ao mesmo tempo! Vai ser jeitoso mantê-la cá muito mais tempo, vai, vai”. Rodopio numa valsa, atraindo a sua atenção. Abre-me a porta, ri-se imenso para mim, faço-lhe sinal com a mão, para que ria mais baixo, lá dentro podem ouvi-la [é mau para ela, ‘tou nem ai para os outros…]. Pelo corredor, vou a pensar que ela tem 37 anos e parece ter 57…como é possível?!

Nos phones, uma canção especial, que dedico a alguém especial, que precisa, right now, convencer-se disto:



Bono, deixa-me ser a tua maçã…

Beautiful Day - U2

The heart is a bloom
Shoots up through the stony ground
There's no room
No space to rent in this town


You're out of luck
And the reason that you had to care
The traffic is stuck
And you're not moving anywhere


You thought you'd found a friend
To take you out of this place
Someone you could lend a hand
In return for grace


It's a beautiful day
Sky falls, you feel like
It's a beautiful day
Don't let it get away


You're on the road
But you've got no destination
You're in the mud
In the maze of her imagination


You love this town
Even if that doesn't ring true
You've been all over
And it's been all over you


It's a beautiful day
Don't let it get away
It's a beautiful day


Touch me
Take me to that other place

Teach me
I know I'm not a hopeless case


See the world in green and blue
See China right in front of you
See the canyons broken by cloud
See the tuna fleets clearing the sea out
See the Bedouin fires at night
See the oil fields at first light
And see the bird with a leaf in her mouth
After the flood all the colors came out


It was a beautiful day
Don't let it get away
Beautiful day


Touch me
Take me to that other place
Reach me
I know I'm not a hopeless case


What you don't have you don't need it now
What you don't know you can feel it somehow
What you don't have you don't need it now
Don't need it now
Was a beautiful day

(…)
Prossigo. A colega liga, tenho que atender, já saiu do HFX e conta-me tudo: o que fizeram, o que vão fazer…”Não faças filmes” – peço-lhe – “Espera os resultados… blablabla”. Quando penso encerrar a manhã, sou “abalroada”. Mal tenho tempo de fechar todas as janelas do pc. Senta-se ao meu lado, fico sem poder torcer as mãos, enviar sms, nada… Quer reunir/conversar/whatever/pelos-deuses-do-Olimpo…Escuto. Não interrompo. Não argumento. Escuto…e alguém escutará os meus apelos?! Vem AG em meu “socorro” e atiro-lhe, “de máximos”: “Nem sabia que estava cá, está melhor?” – parece que vestiu a roupa toda que tinha no armário – “Vamos almoçar? Estou mooooorta de fome…” – e de tédio, quero acrescentar. Ela percebe, conhece-me bem, há muuuuuitos anos. Que não tem apetite, que tem frio, funga tudo quanto pode…”Vá lá” – insisto – “tem que comer alguma coisa, é tardíssimo…” enquanto pego nas tralhas, quase empurrando-a. “Nunca a vi assim, é um rochedo…”, “Nem eu nunca me vi assim” – interrompe-me – “quando fui operada a…voltei no dia seguinte, quando fui lá para baixo para o..., depois de ter feito a….e ninguém soube, era eu que me enfaixava a mim própria…” Eu sei, reflicto, é um rochedo!

Trivialidades para descomprimir: as cachorras [as gracinhas das nossas filhas…], o fim de semana dela sem apetite, nauseada, a cair da tripeça…

(…)
Chefe liga, se eu posso ir lá baixo. Posso, eu posso tudo, Graças a Deus! Galgo escadas, encontro a Supervisora de Limpeza, “Que faz aqui? Não há ninguém, vá descansar, que bem precisa…” sugiro. Chefe mal me vê, pergunta-me [2 vezes, já me parece um hábito…] se estou bem. “Estou óptima!”, sossego-o, descanse que não vamos ter problemas…está tudo a correr bem. Quer falar fora da empresa, olho em redor, em busca de pessoas, recomendo-lhe que fale baixo, porque faz eco…Quando termina, chuto: “Vou pelas escadas, acompanha-me? Preciso queimar…adrenalina!” Subo sozinha…

Encontro J1 já na empresa. Desencontros, estive a falar com o chefe, olhando-o significativamente. “Ah, agora é assim?!” – diz baixinho. Mantenho o olhar, deixo escorrer um sorriso e emendo: “Se querias falar comigo…despacha-te, quero sair, vou ao cinema…” – informo-o num sussurro. Pergunta-me que vou ver (pede-me sempre sugestões: a namorada/amiga/sei-lá só quer ver comédias românticas, da chacha…e o miúdo, que fez Erasmus, é tão fixe! Tão maduro para a idade, merecia coisita melhor – ele sabe, diz-me que é só para passar o tempo, que ela não é a mulher da vida dele), “Não te posso dizer…ias-me gozar até ao fim dos meus dias”, “Ia agora?”, ri-me para ele, à laia de resposta, feita gaiata: “Sei que não…digo-te depois de ver, ‘tá?”
Chefe aparece, com todos os vagares, “E eu ainda vou dormir a Elvas…”, diz-me J1, como quem diz “tenho pressa para me por a andar”. “ Tenho saco-cama no carro” – diz-me, com ar maroto. Não resisto: “Olá…cheira-me a animação…lá por casa também há, mas sem muita…”, “Espero que este, hoje, tenha…” – responde-me, deixando-me nocaute. Vou-me a rir sozinha, para o meu canto, começo a arrumar os tarecos, a desligar o “companheiro de luta” e vejo AG e meu chefe, ao meu lado:
“- Blablabla…” – meu chefe está inspirado – “blablabla” – interrompo-o, senão ficamos ali até amanhã:
“- Meus amores, adoro-os de paixão! Mas, euzinha, tou no ir. Olhem para a minha cara, estou aqui há horas, vim para fazer o meu trabalho e acabei por andar a apagar os incêndios dos outros. Portanto, meus queridos, se quiserem, amanhã, liguem-me e vimos isso. Senão, quarta-feira vai muito a tempo, ‘tá?” – abotoo o casaco [estou de preto, integral, pareço ter o triplo do tamanho], AG sorri-me entre fungadelas – “Kissss, bom feriado, fuuuui”.
Dou uma piscadela a J1, que me sorri e murmuro: “Diverte-te”. Responde-me, com visível satisfação: “Igualmente”.

(…)
À hora marcada, eu, adolescente, me confesso…




Sinopse
Bella Swan (Kristen Stewart) está devastada pela súbita partida do seu amado, o vampiro Edward Cullen (Robert Pattinson), mas o seu espírito é reavivado pela crescente amizade com o irresistível Jacob Black (Taylor Lautner). De repente ela é puxada para um mundo de lobisomens, inimigos ancestrais dos vampiros e vê a sua lealdade testada.

http://www.newmoonthemovie.com/

…Gosto de filmes de Fantástico, do Bem e do Mal…E arrasto comigo quem nunca me diz que “não”.

Se a tagarelice me fez bem...o dia ainda não estava terminado: a miudagem perfeita [F. ajudou...muito], e com a adrenalina ao máximo, ligo "este companheiro"; quero, ainda, distrair-me, descontrair...o que parecia ser uma noite descontraída, fez-me "entornar" e sem querer, vazar emoções...de saudades, de memórias ainda tão vivas, tão pulsantes. Transbordei sem vergonha, autêntica e despida, quando menos esperava...Há dias assim!

Quando F. chegou, pude finalmente abraçá-lo e esconder o rosto nos seus ombros, esses ombros que não quis largar...Está cansado, só me pergunta: "Mas tu agora deste em escritora, estás sempre de volta disso?", faz-me rir e escondo com a franja os olhos inchados. Diz-me que se vai deitar, "eu também já vou!"

São 3 h da manhã, sinto fome. Da cozinha, vejo o dono da Zoya a passeá-la. Engulo um yogurte, a miudagem também quer um petisquinho. Verifico tudo, fumo o último cigarro. Deito-me com cuidado, aconchego a Pipoquinha, enrolo-me num canto, abraço uma almofada e as lágrimas correm-me pela cara, incontroláveis. De silenciosas a convulsivas. F. vira-se, pergunta-me o que foi:

" - Nada...já passa...sinto saudades... tantas saudades!"


2 comentários:

maria teresa disse...

Não sei que dizer... mas sinto-a liberta a viver os seus dias em pleno, com saudades, sem saudades, cansada, descansada, a correr, a descançar,... mas está a VIVER!
Bjis

Anónimo disse...

E como é bom saber Viver, não basta só, viver por viver, viver com objectivos, com obstáculos por passar, ultrapassa-los, seguir em frente, viver o 'hoje', o 'amanhã', mas viver, com essa alegria, determinação, vontade, garra, felicidade, mesmo que por vezes tenhas os 'teus' momentos mais frágeis. Estou a gostar!!

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