Sexta, 09:25h
- “Está um frio que nem imaginas!” - dito assim, à laia de ‘bom dia’, até estremeço.
- “… mas… tu és dai… estás habituado…” - encolho-me.
- “Estão -1 ou -2º, não fazes ideia, e aquele vento gelado, sabes?” - oh, se sei… olho o céu límpido através das grandes vidraças, vejo Pégaso, que passa veloz…- “e o céu, com ar polar, de nuvens altas…”
- “Esfarrapadas?” - interrompo num deslumbre de encantamento e magia - “sei, sei como é… é um céu lindo, maravilhoso… sei, sei como é…” - deixo escapar, num suspiro que só Pégaso consegue ouvir.
- “Olha, era só para te agradecer…” - e regresso à realidade, quando já voava longe, longe, mas tão longe que nem eu sei…
Sábado, 10:35 h
A Vila aos pés. Sempre a minha Vila, o meu Mar, a minha baia, o meu eu…O Céu, sempre este céu, azul, mas de um azul tão intenso, reflectido na palidez solar - será este Céu de facto diferente ou os meus olhos?
O Ar da Vila é diferente… respiram-se intimidades, cumplicidades mil. Adivinho-te ao longe, não és, já, a minha prioridade. São os melrinhos, que me espreitam de todos os cantos, de grandes olhos brilhantes: de repente, estou cercada, não há mãos suficientes para tantos afagos, esfregam-se nas minhas pernas de satisfação, sob o olhar sorridente de quem nos observa.
Rações descarregadas, todos os melrinhos a saciarem-se, sem brigas e em silêncios de hierarquias. Observo-os, afastando-me, num “até já” e caminho em direcção à tua torre majestosa. Confesso que não sinto frio: coração quente e mãos frias, talvez. Ao som das botas a baterem no asfalto (tão diferente das habituais havaianas…), os salpicos do mar, como alfinetes na cara, fazem-me sorrir de saudade:
“- Não me diga que vai para a praia?” - atravessam-se nos meus pensamentos.
“- Hei-de ir” - largo numa gargalhada - “mas não já. Porque preciso…”
Responde-me com um aceno de concordância… conhecem-me.
Conhecer alguém é de uma plenitude espantosa!
- “ Eu senti que estavas cá” - enfatizo as primeiras palavras, da forma que só eu sei e só tu entendes.
“- Eu sabia que tu virias.”
… de olhar cravado, apelativo, lendo silêncios, trocamos, assim, as palavras que deixamos (sempre!) por dizer…
Domingo, 08:15 h
E a chuva expulsou o frio. As ruas molhadas revelam o poder da água, enquanto Elemento de pressão. A Pipoquinha estremece, eu também, (só por solidariedade!), enquanto incentivo:
- Querida, olha o Sol!
É este sol que procuro deslumbrar, mesmo quando encoberto por nuvens ou prédios… e o Verão está (quase!) a chegar ;)
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