quarta-feira, 4 de abril de 2012

Os Riscos


"(...) Num ano, o número de trabalhadores despedidos ao abrigo de processos de despedimento colectivo aumentou de 1.007 para 1.248 pessoas, mas as empresas, ainda assim, conseguiram "segurar" 77 postos de trabalho em relação aos 1.332 estimados no início dos respectivos processos de despedimento colectivo.
(...)
No processo de despedimento colectivo, a empresa entra com um pedido inicial junto do Ministério da Economia e Emprego, manifestando a sua intenção e o número de trabalhadores abrangidos pela acção. Segue-se uma fase de negociação entre a empresa, os representantes dos trabalhadores e os serviços do Ministério, onde se tentam soluções, nomeadamente de reconversão, e negociações compensatórias. Finalmente, a entidade empregadora comunica a decisão definitiva de despedimento e entrega um mapa final aos serviços do Ministério onde consta o número de trabalhadores efectivamente dispensados e o processo dá-se por concluído. (...)"

 

Numa multinacional, sobreviver a um Despedimento Colectivo é ser O Sobrevivente. Não O Escolhido, como muitos pensam, quando se sobrevive a cinco ou seis despedimentos colectivos na mesma Empresa. É como sobreviver a um desastre nuclear ou a um tsunami... onde é sempre preferível morrer, logo de imediato, do que ficar só, sem água, sem comida, com epidemias...à espera da Ajuda Humanitária que há-de chegar.

Neste caso, a Ajuda não vai chegar nunca: é uma morte-anunciada, lenta... ver sair os colegas, aprender a "viver sem eles", é pegar em tarefas até então desconhecidas e o pensamento mais frequente é "como é que esta porcaria se faz?!"

Todos acham que somos uns sortudos, em elogios do tipo "afinal, conseguiste manter o emprego e isto está tão mau" e esboçamos um sorriso-amarelo, sabendo que a panela está ao lume, irá aquecendo lentamente e, quando menos esperarmos, estará a ferver, cozendo-nos sem soltarmos um "ai".

No fim, quando tudo acabar, numa sexta-feira qualquer (nesta área, é neste dia que todas as pessoas receiam atender o telefone ou abrir mails), não há margem de negociação. Nada pode compensar ano atrás de ano de dedicação, quase décadas de empenho e, sobretudo, muito trabalho e lealdade. Até à hora D, é seguir, dia-após-dia... como se houvesse Amanhã.

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